“Aonde fica a saída?”, Perguntou Alice ao gato que ria.
”Depende”, respondeu o gato.
”De quê?”, replicou Alice;
”Depende de para onde você quer ir…”
Esta pergunta já marca a infância de gerações e mais gerações há mais de um século. A viagem de Alice ao mundo surreal que a garota encontra dentro da toca, com personagens como o gato que ri e o Chapeleiro Maluco é, sem dúvida, um dos maiores clássicos da literatura mundial: “Alice no País das Maravilhas”, que comemora o marco de 150 anos no dia 4 de julho.
A edição comemorativa produzida pela Editora Zahar, é um dos muitos lançamentos criados para comemorar a data. Alice: edição comemorativa – 150 anos reúne em um só volume as duas obras mais emblemáticas de Lewis Carroll: Alice no País das Maravilhas e Através do espelho e o que Alice encontrou por lá. A edição traz o texto integral em excelente tradução vencedora do Prêmio Jabuti, além de projeto gráfico em dupla face, capa dura e com ilustrações de uma especialista e habitante do mundo de Alice: Adriana Peliano, artista plástica e presidente da Sociedade Lewis Carroll do Brasil.
Curiosamente, vimos caminhando na rua, uma menina fantasiada de Alice e meu filho ficou bem animado com os detalhes da fantasia: uma pulseira com o baralho de Copas e uma bolsa em formato de relógio, além do tradicional vestido azul e o laço na cabeça. Diante da curiosidade dele, tive que contar brevemente a história de Alice, cortando minhas últimas influências, a do último filme de Alice no cinema, dirigido por Tim Burton e a da série “Once upon a time in Wonderland”, onde Alice e o gênio da Lâmpada dividem a mesma história.
Diante de tantas interferências, acabei buscando o filme original da Disney, de 1951, e assisti no fim de semana. E só para começo de conversa, o filme despertou um misto de emoções no meu pequeno: Medo, tensão e curiosidade.
Primeiro ela vai para longe de casa, depois entra numa toca de coelho. De repente, toma uma poção que a faz diminuir e aumentar de tamanho várias vezes e encontra um mundo de situações surreais, que mostram a todo momento que a Curiosidade pode ser muito perigosa e provocar possíveis riscos e lágrimas.
Prontamente expliquei que ser curioso não é sempre ruim. A curiosidade científica, para entender como as coisas funcionam, e para aprender mais é sempre bem vinda, desde que inicialmente acompanhada por um adulto. Mas a curiosidade de ir a lugares desconhecidos, sem avisar a ninguém e de saber de tudo só por saber, podem gerar perigos sim.
O problema é que a curiosidade da Alice foi muito maior que o bom senso e quando ela vê um coelho branco de coletes correndo cheio de pressa com um relógio na mão, não resiste e segue com ele ao País das Maravilhas, onde a Rainha de Copas a todos comanda, onde tudo foge da normalidade. É como um sonho lindo misturado a momentos de temor. Tudo aquilo que você deseja está lá, mas não do jeito que gostaria. Flores e animais falantes, tão desejados, comportam-se de forma agressiva e não a ajudam a encontrar o Coelho Branco e mais tarde, a voltar para casa.
Muito pelo contrário, os personagens que parecem fofos dão informações desencontradas, dizem coisas sem sentido e a fazem percorrer o País das Maravilhas mudando de tamanho a toda hora, mudando de caminho, até que ela mesma se esquece de quem é e porque está lá. Tudo isso de uma forma magistral para mostrar às crianças, entre outras coisas, que não importa a aparência e a beleza. Não podemos confiar em ninguém, porque ele parece bonzinho. E apesar de ser triste e duro, de fato, temos que crescer com o conceito de que existem pessoas más e situações de risco, onde menos se espera e é preciso avaliar bem antes de confiar em estranhos.
O Chapeleiro Maluco dá uma boa lição sobre o aproveitar um dia de cada vez, comemorando a vida nos Desaniversários, ou seja, 364 dias por ano e depois no próprio aniversário. Já o Gato que Ri parece ser um dos personagens mais gentis, indica soluções que a fazem chegar ao Jardim da Rainha de Copas e ao Coelho Branco. Mas, ao fim, como num bom sonho a história acaba com a Rainha de Copas perseguindo e querendo cortar a cabeça de Alice, que desperta antes que isso aconteça. Ela acorda e volta para o seu mundo e nos deixa com a sensação de que fomos nós quem sonhamos.
Enfim, é uma história maluca, estranha, profunda e inteligente. Mas acima de tudo, traz de forma surreal, ensinamentos que podem ser levados para a vida toda. Alice é curiosa exageradamente, sonhadora e muito fora dos padrões para uma menina da idade dela, especialmente há 150 anos. Mas, essa história psicodélica, mostra que ser diferente, estar confuso e cheio de incertezas faz parte da vida de quem leva a vida com imaginação. E aprender com os erros da vida faz parte do caminho.