Aventuras Maternas

Solidariedade se aprende pelo cordão umbilical

imagesWO0QMTP9Durante a gravidez fiquei com uma grande dúvida sobre o que fazer com as células-tronco do cordão umbilical que me unia a meu filho. Depois de alguns meses de reflexão optei por doá-las ao Banco de Células Tronco do INCA. Pensei da seguinte forma: esse sangue precioso e útil para tanta gente agora, não deve ser estocado para ser usado num dia distante, ou, melhor, se Deus quiser, nunca. Afinal, acredito com toda minha fé que meu filho nunca precisará de suas células, mas mesmo que precise poderá contar com a compatibilidade das células de outro bebê, assim como muitas pessoas poderão se beneficiar com essa primeira doação do Theo.

Explicando um pouco mais, durante a gravidez, o oxigênio e nutrientes essenciais passam do sangue materno para o bebê por meio da placenta e do cordão umbilical. O sangue que circula no cordão umbilical é o mesmo do recém-nascido. Quando pesquisadores identificaram no cordão umbilical um grande número de células-tronco hematopoéticas, que são células fundamentais no transplante de medula óssea, este sangue adquiriu importância, pela doação voluntária, para pessoas que necessitem do transplante.

Quer dizer, o sangue do cordão é uma das fontes de células-tronco para o transplante de medula óssea e este é o único uso deste material atualmente. O transplante é indicado para pacientes com leucemias, linfomas, anemias graves, anemias congênitas, hemoglobinopatias, imunodeficiências congênitas, mieloma múltiplo, além de outras doenças do sistema sanguíneo e imune (cerca de 70 indicações).

Para fazer a doação é muito simples, basta ligar para o INCA para se cadastrar como doador, depois, próximo a data provável do parto, é preciso ir até lá buscar o kit de coleta e um termo de responsabilidade que deve ser assinado pelo obstetra, se comprometendo a fazer a coleta. Após o nascimento, o cordão umbilical é pinçado (lacrado com uma pinça) e separado do bebê, cortando a ligação entre o bebê e a placenta. A quantidade de sangue (cerca de 70 – 100 ml) que permanece no cordão e na placenta é drenada para a bolsa de coleta.

Em seguida, já no laboratório de processamento, as células-tronco são separadas, analisadas e preparadas para o congelamento. Estas células podem permanecer armazenadas (congeladas) por cerca de 20 anos no Banco de Sangue de Cordão Umbilical e disponíveis para serem transplantadas. Cabe ressaltar que a doação voluntária é confidencial e nenhuma troca de informação será permitida entre o doador e o receptor.

Além disso, a mãe doadora deve ter mais de 18 anos, ter feito no mínimo duas consultas de pré-natal documentadas, estar com idade gestacional acima de 35 semanas no momento da coleta e não possuir, no histórico médico, doenças neoplásicas (câncer) e/ou hematológicas (anemias hereditárias, por exemplo).


Fui chamada para retornar ao INCA algum tempo depois, pois a análise do sangue do nosso cordão umbilical (meu e do Theo) foi satisfatória e seria preciso refazer o exame sorológico alguns meses após o parto, por conta da janela imunológica que existe entre a contaminação por um vírus e a constatação de que ele está em seu organismo. Enfim, em alguns dias, felizmente, nossa doação ficou disponível para ajudar alguém que tanto precisa e tem compatibilidade com as nossas características.

                           

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Priscila Correia

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